ROTINA NO PRESÍDIO DE MONTES CLAROS

'Detentos
de facções rivais são
divididos
por pavilhões', diz agente
"Existem as facções, tanto é que a maioria dos pavilhões é dividido por elas; tem detentos que chegam e não podem ir para os pavilhões com detentos rivais. Hoje, visivelmente, são duas facções: Malboro e Ninha, mas já existem fragmentos de outras facções infiltradas". O relato é de um agente penitenciário que trabalha há 9 anos no Presídio Regional de Montes Claros, no Norte de Minas.
Ao G1, o profissional, que preferiu não se identificar, falou como é o dia a dia de um carcereiro e explicou como as facções comandam o crime de dentro do presídio.
"Na admissão de cada detendo na Unidade, na entrevista, ele já é direcionado para o local menos arriscado e é encaminhado para ficar junto dos companheiros de facção. Em nenhum momento da rotina deles, eles se encontram. Os banhos de sol são individuais por pavilhões", explicou.
De acordo com o agente, os detentos articulam os crimes tanto dentro, quanto fora da Unidade Prisional, com ajuda dos visitantes, representantes jurídicos e de profissionais que trabalham no presídio. " A informação entra e sai de maneira fácil. A gente não sabe o que chegou de conhecimento para o preso. A todo momento eles estão articulando e buscando se informar para praticar algo".
ROTINA
"A rotina é de muito trabalho e temos de estar preparados para algum imprevisto, pois 'algo' sempre pode acontecer. E de alguns anos para cá esta rotina piorou um pouco, tanto pela superlotação do Presídio quanto pelo número de servidores. A maioria dos agentes se deslocam para as unidades descaracterizados [sem uniforme] e a orientação é esta mesmo, não ir trabalhar fardado".
CRISE PENITENCIÁRIA
O profissional afirma que a quantidade de agentes e a estrutura das unidades colaboraram para a crise penitenciária, que afeta todo o país. "Este número de detento por agente, depende muito da política de Estado. Hoje, o Estado é muito assistencialista ao encarcerado. Para cumprir a política vigente, é quase incalculável a quantidade de servidor para atuar nesta assistência. Em torno de 3 a 4 detentos por agente, realmente é razoável. O que eu posso dizer, para a nossa segurança, é que esta política não está sendo cumprida; passam dos cinco detentos e, inclusive, aumenta o nível do estresse do servidor".
Para ele, o governo deveria mudar a forma de aplicação da pena. "Hoje, quem atua no mundo do crime acostumou a cumprir a pena de forma muito tranquila; é muito assistencialismo para quem está privado de liberdade. Ele comete o crime e sabe que se for preso a perda do período que ele ficou lá [preso] é de pequena relevância para ele. O mundo do crime é mais vantajoso", diz.
As prisões brasileiras têm uma média de sete presos por agente penitenciário. Em Montes Claros, são duas unidades carcerárias e a Secretaria de Administração Prisional (Seap) não informou a quantidade de presos e agentes por questões de segurança. O Presídio Regional foi inaugurado em 2007.
Em nota, a Seap esclareceu que todos os visitantes e servidores passam por rigorosa revista para entrarem no presídio, além disso, a Unidade conta com um atuante serviço de Inteligência que trabalha para coibir ações contrárias a boa administração do Sistema Prisional. "Informamos também que todas as denúncias, devidamente formalizadas, são apuradas pela Seap nos termos da lei", diz a nota.
VIDA PESSOAL
"O fato de eu escolher esta profissão interfere muito pouco na minha vida. Eu não misturo profissional com o pessoal, apesar da gente adotar cautelas como companhias e lugares frequentados. Eu não sei se é porque a gente acostuma com a rotina, mas a gente acaba vendo isso com muita naturalidade", conclui. (Fonte: G1 Grande Minas)